Kaká fracassou e agora precisa aceitar isso para seguir sua carreira longe do Real Madrid

Kaká precisa parar. Não parar de jogar futebol. Kaká precisa parar de querer fazer com que os 65 milhões de euros gastos pelo Real Madrid em sua contratação (mais os gastos com salários) sejam recuperados ou, no mínimo, amenizados. Não dá. Entendo que Kaká não queria ter em sua carreira um fracasso, é normal no atleta querer ter uma carreira vitoriosa, sem asteriscos. Entretanto, o futebol nem sempre te dá essa possibilidade. Pelo menos não aos mortais. Kaká fracassou no Real, muito por sua culpa. Ele agora precisa aceitar sua nova realidade, aceitar que fracassou e seguir sua carreira.

Kaká fracassou no Real Madrid (HDGetty)

Os brasileiros tendem a culpar alguém por sua incompetência. Muitos apontam Mourinho como grande vilão na história de Kaká no Madrid, e poucos se dão conta que o único capaz de brilhar e fracassar é o próprio jogador. Kaká teve chances no Real, e seria mais fácil se não tivesse. Seria bem melhor para quem gosta de apontar, culpar, julgar. Ele teve - e não foram poucas -, não rendeu. Se perdeu nas lesões e na falta de sequência, justamente por não render quando precisava.

Hoje, peso morto no elenco, Kaká, como em todo início de temporada, se encheu novamente de esperanças, desta vez bem maiores. Ancelotti é o novo técnico, justamente o treinador que apostou no Kaká do São Paulo, aquele que muitos ainda desconfiavam, inclusive os torcedores do Morumbi, local de onde saiu vaiado e como pipoqueiro, algo bem comum entre os indecisos e chatos torcedores do São Paulo. Com Ancelotti, já no Milan, Kaká era o expoente daquele time campeão da Champions em 2007. Daquele Milan que se alternava entre gerações. Um time que misturava a nova geração do futebol italiano com alguns da velha guarda da Azzurra. Um time fantástico. Um Kaká fantástico. Bola de ouro, melhor jogador do mundo eleito pela Fifa.

Aquele Kaká está morto, e morreu antes mesmo de deixar Milão. Muitos não aceitam esse fato, nem mesmo o maior interessado nisso, o próprio atleta. Ancelotti não conta com Kaká, apenas Kaká não vê isso. Ancelotti quer jogadores jovens, que cumpram funções táticas, se esforcem, marquem, quer jogadores com que possa contar durante vários jogos seguidos, quer jogadores que o façam trilhar um caminho vitorioso por anos, não só por uma temporada ou outra. E Kaká não entra nesse plano. Agora, quem coloca isso na cabeça do jogador? Quem?

Kaká nos tempos de Milan (Foto: HDGetty)

Kaká, quando comprado pelo Real Madrid, já iniciava uma fase de mudança de postura. Até mesmo por nunca ter definido uma posição, estava migrando do ataque para o meio. Foi um atacante naquele Milan, um ponta que fechava, desequilibrava e conduzia, não era meia. Kaká mudou de posição para se encaixar na seleção, já que o ataque historicamente sempre foi uma zona disputada no Brasil. Kaká, talvez por não ter o mesmo vigor físico de quando jovem, pelas lesões e pela chance de se garantir na seleção se permitiu ser transformado em um comum meia de ligação.

Kaká poderia ter lutado contra essa mudança, mas não quis. Aceitou ser meia, mesmo não rendendo tanto. Meia precisa recompor, buscar o jogo, atacante nem sempre. Recompondo, consequentemente, ficou mais distante do gol. Precisa correr mais para chegar na trave, e isso não é bem um missão simples. Kaká se desgastou, se lesionou várias vezes, mudou seu estilo, se tornou um jogador pesado, porém nunca perdeu sua qualidade técnica. 

Os jornais espanhóis, na última segunda-feira, noticiaram que Kaká, definitivamente, não está nos planos de Ancelotti e, consequentemente, do Real Madrid. Acho que ficou bem claro há meses que Kaká não é parte do Real, e só ele não quer perceber. O homem Kaká precisa parar, repensar e desistir dessa coisa doentia de querer consertar as coisas. Estou vendo o momento do contrato acabar e Kaká se oferecer para jogar de graça no Real apenas para continuar nessa sua obsessão por consertar as coisas que não serão consertadas. Acabou, Kaká. Já era. Você fracassou. Entenda de uma vez por todas que não te querem mais e que você está passando por algo que não precisa passar.

Kaká em ação pelo Brasil (Foto: UOL)

São mais de 30 clubes interessados no meia. Ele, pelo menos por enquanto, não liga para isso. Não está nem aí. Kaká, como disse, está obsessivo, quer seguir no Real mesmo sabendo que não o querem lá, quer continuar se alimentando da esperança de jogar alguns minutos e, nesses minutos, tirar um grande coelho da cartola que pagará ''suas dívidas'' com o clube. Como se ele devesse algo. Não, não deve. Kaká não será o primeiro e nem o último jogador contratado a peso de ouro que fracassará. 

Kaká precisa de ajuda, precisa entender que ser bonzinho demais é ruim. Precisa entender que não deve nada ao Real. Precisa reduzir seu salário, se adaptar a uma nova realidade e ir em busca de algo novo. Interessados não faltam. Foge disso, Kaká. Vai para qualquer lugar, EUA, Corinthians, São Paulo, Turquia, Coreia, Japão, tanto faz, pouco importa. O que importa é ver Kaká liberto dessa âncora sentimental que ele se prendeu. Segue o jogo. Se desapega. Você fracassou no Real Madrid e não pode mais mudar isso.