terça-feira, 30 de junho de 2015

Firmino e a ignorância generalizada

Roberto Firmino Barbosa de Oliveira. Poderia ser Barbosa, como aquele goleiro, vítima de covardia por uma falha que talvez nem tenha sido tão falha assim. Quem sabe, poderia ser Oliveira. Oliveira como Socrates. Craque. Não é. Roberto Firmino, meio campista do Liverpool, e jogador da Seleção Brasileira, não precisaria, em um mundo minimamente ordenado, ser craque ou nenhum dos outros citados para ser respeitado.

Firmino é o escolhido da vez no futebol brasileiro. Na terra dos carrascos, Firmino é grande. Respeitado, admirado, diferente. Na terra dos condenados, vítima de uma covardia sem tamanho. Desde que os resultados da Seleção Brasileira começaram a desandar, Firmino passou a ser um gigantesco alvo que ninguém vê, viu, conhece. O desespero nos faz atirar no escuro, em nada, mas atiramos sim em alguém.

Roberto Firmino, jogador do Liverpoll (Foto UOL)

O meio campista, ao desembarcar em São Paulo, após a eliminação do Brasil diante do Paraguai, usava sua roupa casual, roupa que comprou e gosta de usar. Roupa que não o faz mais ou menos que ninguém. Carlos Alberto Torres, campeão do mundo pelo Brasil e atual comentarista dos canais Sportv, viu Roberto Firmino e, ao vivo para milhares de pessoas, chamou o jogador de "aquilo". Um homem, um profissional, um jogador chamado de "aquilo". "Aquilo não é jogador de futebol", disse. Definitivamente, Roberto Firmino não é aquilo. É aquele. Aquele que, por ignorância de tantos como Carlos Alberto Torres, tem sido alçado a condição de culpado pelo vexame de ser ter uma equipe de futebol comandada por Dunga e Gilmar Rinaldi, por Marco Polo Del Nero e seus blue caps. Pela CBF.

Imagino eu como Alagoas recebe tudo isso. Terra de Roberto, onde é ídolo. Maceió conhece muito bem sua cria. Nas terras alagoanas e em qualquer outro lugar do mundo, Roberto Firmino é o cara que venceu todas as barreiras impostas em sua vida e foi mostrar em terras germânicas que não é preciso vestir uma camisa pesada para ser visto, basta fazer-se ser olhado, basta atingir o patamar que os outros não conseguem. Imagino, também, a família do jogador. Como você reagiria vendo um dos seus ser execrado por tanta gente que nem saberia reconhecê-lo em uma avenida movimentada? Como reagiria vendo alguém ótimo ser transformado em um dos piores jogadores da história da Seleção Brasileira por jogar no Hoffenheim? Não deve ser fácil. Principalmente quando ninguém se importa.

Tecnicamente, podemos questionar a qualidade do jogador, algo que não faço por não ser ignorante. Não conhecer Firmino para alguém como eu e tantos outros que dedicam suas vidas ao esporte e ao futebol é uma falha muito grave, muito grande. Ignorância. Como humano, já fui ignorante em diversos assuntos, e ainda sou, mas existe uma diferença. Tenho caráter o suficiente para reconhecer que a culpa da ignorância é minha. Não existe terceirização de culpa em alguns casos. 

Culpar Firmino pelo desempenho de uma Seleção frágil é tão idiotice quanto argumentar sua não convocação com a premissa de "não conheço-o". Neste momento, faz falta uma camisa do Palmeiras, do São Paulo, do Botafogo. Tenho certeza absoluta que se Firmino vestisse uma dessas camisas, não sofreria com tanta covardia e ataques insanos. Não veste, nem vestirá por um bom tempo. Firmino veste azul, ou melhor, vestia. Um azul de várias tonalidades no Hoffenheim, da Alemanha, onde se destacou por longos anos. Roberto, meio campista, não atacante, como joga com Dunga, usará vermelho na próxima temporada, morará em Liverpool e defenderá o time de mesmo nome. 

Talvez fosse melhor usar vermelho gaúcho. No Inter, sendo destaque, ninguém iria por dedo e voz em riste contra um cara que só quer jogar bola e ajudar seu país quando preciso for. Acredito que eu não preciso lembrar que ele foi convocado, chamado, solicitado. Firmino serviu ao Brasil por opção dele e, principalmente, alheia. Fez seu melhor, assim como tantos outros. 

Acredito que chegou a hora de deixar a zona de conforto que emoldura nossos analistas, comentaristas, jornalistas, torcedores, brasileiros. Chegou a hora de fazer essa galera correr atrás de verdade de tudo que acontece. Criar mártires, judas, culpados, vilões e descontar frustrações em uma figura aleatória, sem motivo que sustente, não é analisar, comentar, apurar. É covardia. Simples. Pura. Nojenta. 

Desejo força ao jogador e sua família. Fica meu respeito e compreensão. Não é agradável ser Firmino nesse momento. 

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