sábado, 5 de setembro de 2015

Douglas Costa e o Brasil de Dunga que engatinha em solo moderno

Foi bom ver a Seleção Brasileira vencer a Costa Rica.

Douglas Costa, Willian, Hulk e Lucas Lima comemoram gol da vitória no amistoso (Foto: R7)

O placar foi magro. 1 a 0, partida amistosa, gol de Hulk. Inegavelmente, Dunga conhece futebol. O que se pode questionar e muito é a capacidade do treinador em colocar aquilo que conhece dentro do planejamento do seu time. Mesmo no alto de sua limitação, Dunga começa a engatinhar como técnico de um potência colossal como a Seleção Brasileira.

Defesa um pouco mais elevada na linha de jogo, alas espetados e linha de quatro jogadores ofensivos. Dunga começa a mudar a cara da Seleção que patinou e caiu feio na Copa América. Mesmo quando vencia amistosos em sequência, a Seleção do ex-volante não apresentava nada de diferente, nada atual. Hoje foi possível ver que existe uma tentativa embrionária de seguir uma linha intermediária entre o conservador e o ultra moderno. Não sei, sinceramente, se será suficiente.

Formação inicial do Brasil no amistoso contra a Costa Rica; Lucas Lima comanda

Lucas Lima fez ótima estreia com a camisa verde e amarela. Em vários momentos da parte inicial do jogo diante dos costa-riquenhos, o meia do Santos chamou a partida, o time, o grupo. Lucas Lima mostrou personalidade e liderança, algo que nem mesmo no Santos consegue desenvolver. As outras surpresas da Seleção foram a leve adiantada do sistema defensivo, com os alas bem espetados e os zagueiros na linha do meio de campo, algo outrora impensável na mentalidade "resultadística" do professor Dunga, e Douglas Costa, além de Hulk como homem mais avançado.

Apesar da engatinhada rumo ao que se pratica no mundo, Dunga não abriu mão dos dois homens de proteção (Luiz Gustavo e Fernandinho). Muitas vezes me parece que o treinador tenta defender um personagem não mais necessário dentro do jogo por conta de seu passado como marcador. Dunga vai precisar deixar de lado algumas de suas convicções mais fortes se quiser ver a Seleção jogar como protagonista diante de qualquer adversário.

Não escondo de ninguém, sempre que perguntado, aquilo que entendo como formato de time mais plausível dentro da Seleção levando em conta a boa safra de jogadores que temos. Repito, e sempre é bom deixar claro, boa safra. Boa. Com potencial para ser excelente. De ruim só mesmo a nossa visão brasileira sobre futebol. O Brasil ideal teria três meio campistas por dentro (não volantes), dois homens abertos e um homem avançado, não necessariamente uma referência.

Chegamos, então, no ponto principal dessa análise. Douglas Costa. O meia atacante, que de uma hora para outra passou a ser excepcional e referência do time por causa da transferência ao Bayern, fez ótima partida, mas é preciso entender sua real função dentro do time e as suas dificuldades. Douglas, na Seleção, dificilmente repetirá as atuações que tem no time alemão pelo fato de existir uma enorme diferença posicional entre Brasil e Bayern. Explicarei em breve.

Fechando a Seleção, a segunda etapa foi leve, solta, já que o placar foi inaugurado ainda na primeira etapa e aos 9 minutos com Hulk, que atuou como referência no time inicial. Apesar de estar fora de seu habitat, o atacante do Zenit, sempre dedicado, correspondeu dentro do seu limite. Hulk é importante na Seleção, mesmo que individualmente existam opções técnicas mais avançadas em estágio de importância.

A arbitragem do amistoso foi bem polêmica. Reclamações para ambos os lados. Gol mal anulado da Costa Rica e mal anulado do Brasil também. Fora isso, deixo também a exemplificação do time que encerrou a partida, já com Kaká, Neymar, Rafinha e Lucas em campo. Por mais polêmica que possa ser, a participação de Kaká no grupo é um acerto do treinador brasileiro. 

Os onze que encerraram a partida; laterais menos avançados, Kaká por dentro como "dono" do time

Entendendo Douglas Costa

Como iniciei dizendo, é muito difícil que Douglas Costas reexiba com a amarelinha seu desempenho no Bayern. Douglas pode se aproximar disso, ou Dunga pode continuar a mexer na ideia do seu time para se aproximar sempre mais daquilo que faz o Bayern com precisão: controlar a partida dentro do campo adversário.

Douglas no Bayern: bola é trabalhada e o jogador é acionado na linha da grande área adversária

A gigantesca diferença entre os "Douglas" está na fatia do campo onde o atleta é acionado. Douglas Costa não é um pensador, pelo contrário, pensar e tomar a melhor decisão (e futebol é, principalmente, tomada de decisão) não são suas especialidades. Douglas é agilidade e drible.

O que faz Guardiola? Limita a participação do jogador aos últimos metros do campo. Quando recebe a bola na última linha antes do gol, Douglas é muito decisivo. Como é um dos jogadores mais ágeis do mundo, a vitória no 1x1 é quase certa. Douglas precisa de um drible para encontrar a área, e sua participação se torna muito importante. É isso que o faz ser destaque.

Douglas na Seleção: na maioria das vezes, acionado na segunda linha, muito distante da área

Eis, então, a diferença que gera algumas das críticas ao atleta. Na Seleção, justamente pelo pensamento quase inverso entre Guardiola e Dunga, Douglas Costa é acionado na segunda linha, próximo da zona de centro do campo. Ou seja, para chegar até o gol, o jogador precisa conduzir a bola por muitos e muitos metros. Seus erros aumentam pela limitação técnica. 

Não é muito difícil enxergar algumas coisas dentro do jogo. Difícil mesmo é conseguir se desprender da bola. Quem acompanha futebol pela visão que a TV estabelece, dificilmente consegue notar as movimentações de um time, justamente aquilo que é mais importante. Comer mosca, popularmente falando, é perder mais da metade do acontece em uma partida. Se quiser ler um jogo, esqueça a bola, ela não é tão importante quanto parece.

Douglas Costas é um jogador bastante interessante, apesar de particularmente não me agradar. Portanto, antes de sentenciar um jogador funcional, é preciso pelo menos tentar entendê-lo. Dunga pode tirar bem mais de Douglas, assim como Guardiola consegue. Se continuar engatinhando rumo a modernidade, não será mais tão improvável ver na Seleção o Douglas Costa que voa na Alemanha. Ainda restam alguns passos até que isso aconteça, porém, nunca é tarde para se tentar aprender a andar.

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